CPF: Qual a relação entre o racismo estrutural e o caso amplamente divulgado na mídia, do Professor de Surf, Matheus Ribeiro, acusado de ter roubado uma bicicleta de um casal branco no Leblon?
J: Eis aí um exemplo claro do racismo estrutural. Na ordem cronológica dos fatos, temos primeiro um homem branco, que rouba uma bicicleta elétrica próxima ao shopping, no Leblon. Pelas câmeras de segurança, foi possível ver como esse homem branco se abaixa, corta o cadeado e saí com a bicicleta elétrica, sem a menor dificuldade e espanto das pessoas ao redor. Ele se abaixa, e, não tenho dúvida que se fosse abordado por alguém, seria até para oferecer ajuda. Pois não desconfiariam que ele poderia ser um ladrão, mas no máximo alguém com dificuldade para abrir um cadeado, tendo em vista que é comum pessoas brancas possuírem aquele tipo de bicicleta, que é cara. Na sequência dos fatos, temos um jovem negro, o Matheus Ribeiro, com uma bicicleta elétrica, no mesmo modelo da bicicleta furtada do casal branco, este casal não hesita em abordar o jovem negro, desconfiando dele ser o possível ladrão da bicicleta, afinal não é comum um jovem negro possuir um bem tão caro. Sem entrar nos detalhes da história, é sem dúvida uma expressão do racismo estrutural, e ninguém sai em defesa do jovem negro, só ele mesmo que precisa provar ser o dono da bicicleta. E não vou aqui analisar os desdobramentos do caso, pois ainda teríamos muito a falar sobre. O fato que, em momento nenhum, foi reconhecido como racismo pelas investigações.