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Categoria: Vida Escolar

Racismo: e eu com isso?

No dia 30 de junho aconteceu a primeira edição do Ciclo de Palestras | Fórum Contemporâneo da Equipe 2021, do Colégio Paulo Freire. 

O Mestre em História da África pela UFRJ, Consultor do CPAD do Clube de Regatas Vasco da Gama e Ativista, José Nilton da Silva Júnior, promoveu um debate sobre o tema “Racismo Estrutural”, de forma aberta e franca. Além de apresentar a contextualização histórica acerca das origens do racismo no Brasil, Júnior provocou a reflexão de todos por meio da análise de situações pessoais e respondeu aos inúmeros insights da equipe, sempre praticando a escuta ativa. Foram mais de duas horas de grande troca de informação!

Júnior também conversou conosco e respondeu algumas perguntas:

Colégio Paulo Freire: Como podemos identificar as diferenças entre o racismo estrutural, institucional e individual?

Júnior: Primeiramente, acho importante termos consciência de que o racismo é, infelizmente, uma realidade no nosso país. O racismo institucional é que as instituições, como parte da sociedade, também carregam em si, os conflitos existentes na sociedade. Desse modo, a desigualdade racial não é fruto de atos isolados de indivíduos ou grupos de pessoas, mas, sobretudo por causa da hegemonia de determinados grupos raciais, que acabam se impondo e se mantendo como grupo dominante, como regra, padrão. E o racismo estrutural é a compreensão de que o racismo é uma decorrência da própria estrutura social, ou seja, desse modo como as relações políticas, econômicas, jurídicas e até familiares são “normalizadas”. Dessa maneira, os comportamentos individuais, e os processos institucionais são derivados dessa sociedade na qual o racismo é a regra, é a norma.

CPF: Quais são os sintomas do racismo estrutural nas relações do dia a dia?

J: O branco se torna o padrão, a regra, mesmo não sendo a maioria da população brasileira. No entanto, é a referência, o modelo, “naturalizado” como tal.
Cheguei até a comentar com os professores no momento da palestra: num dia de grande frio no Rio de Janeiro, ouvi pela manhã, no telejornal, o âncora falar que seria um dia em que todas as pessoas iam ficar com nariz vermelho por causa do frio. No entanto, a maioria dos brasileiros, que não são brancos, não ficam com o nariz vermelho, exatamente por não serem brancas.

CPF: Qual a relação entre o racismo estrutural e o caso amplamente divulgado na mídia, do Professor de Surf, Matheus Ribeiro, acusado de ter roubado uma bicicleta de um casal branco no Leblon?

J: Eis aí um exemplo claro do racismo estrutural. Na ordem cronológica dos fatos, temos primeiro um homem branco, que rouba uma bicicleta elétrica próxima ao shopping, no Leblon. Pelas câmeras de segurança, foi possível ver como esse homem branco se abaixa, corta o cadeado e saí com a bicicleta elétrica, sem a menor dificuldade e espanto das pessoas ao redor. Ele se abaixa, e, não tenho dúvida que se fosse abordado por alguém, seria até para oferecer ajuda. Pois não desconfiariam que ele poderia ser um ladrão, mas no máximo alguém com dificuldade para abrir um cadeado, tendo em vista que é comum pessoas brancas possuírem aquele tipo de bicicleta, que é cara. Na sequência dos fatos, temos um jovem negro, o Matheus Ribeiro, com uma bicicleta elétrica, no mesmo modelo da bicicleta furtada do casal branco, este casal não hesita em abordar o jovem negro, desconfiando dele ser o possível ladrão da bicicleta, afinal não é comum um jovem negro possuir um bem tão caro. Sem entrar nos detalhes da história, é sem dúvida uma expressão do racismo estrutural, e ninguém sai em defesa do jovem negro, só ele mesmo que precisa provar ser o dono da bicicleta. E não vou aqui analisar os desdobramentos do caso, pois ainda teríamos muito a falar sobre. O fato que, em momento nenhum, foi reconhecido como racismo pelas investigações.

CPF: Em sua opinião, quais ações você julga primordiais para que a luta contra o racismo dentro do ambiente escolar aconteça de forma efetiva?

J: Primeiro, o racismo precisa ser pauta. Uma escola do futuro não pode se furtar de falar de temas como racismo, machismo, homofobia entre outros. Depois, oferecer formação nesse sentido para seu corpo docente, discente e administrativo.
E ainda, criar ações efetivas de combate ao racismo no ambiente escolar. No caso de escolas privadas, em que se observa um número bem pequeno de alunos negros e negras, entender de que modo isso pode ser minimamente modificado. E ainda, nas contratações, penso que também seja necessário essa sensibilidade de criar oportunidades, aumentar a representatividade, enfim, dar oportunidades que historicamente foi negado por séculos às pessoas negras.

A equipe Paulo Freire pôde participar presencialmente, seguindo todas as medidas de distanciamento e também de forma remota,  via transmissão simultânea. 

O Ciclo de Palestras | Fórum Contemporâneo da Equipe é uma iniciativa da Direção Geral do Colégio Paulo Freire, promovendo debate e compartilhando informação.

Mais do que nunca, informação compartilhada é poder!