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Categoria: Vida Escolar

Nem vilã, nem salvadora: a IA não resolve (nem destrói) a educação

 

A inteligência artificial vem sendo tratada, em muitos debates, como se fosse um “divisor de águas” para a educação. De fato, estar diante da magia das plataformas adaptativas, das hipnóticas ferramentas de acessibilidade e de inúmeros e potentes recursos de análise de dados nos dá uma sensação (às vezes meio assustadora) de que estamos diante de uma revolução. Mas será que é isso mesmo?

Recentemente ouvi do Professor Diego Amaro de Almeida, em sua brilhante aula na Certificação em IA para Educação (IBMEC) que, diferente de outras áreas, a Inteligência Artificial não criou problemas inéditos para a escola. Os dilemas que ela escancara já existem há muito, muito tempo…

Quando falamos, por exemplo, de autoria, plágio, superficialidade nos estudos ou desigualdade de acesso, precisamos reconhecer: nada disso nasceu com a chegada da IA.

Antes das máquinas generativas, já existiam cópias prontas da internet, resumos vendidos em banca de jornal (nem existe mais Banca de Jornal…), apostilas que prometiam atalhos milagrosos… isso sem falar no abismo de desigualdades estruturais que sempre definiram quem tinha/tem ou não acesso a materiais de qualidade. O que muda (isso sim! Muda mesmo!) é a escala e a velocidade: a IA faz tudo isso com um clique, exigindo de nós, humanos, uma resposta mais ágil, mais crítica, mais consciente e mais… Urgente!

Esta urgência não é para demonizar a tecnologia, mas sim para encarar discussões que foram muitas vezes adiadas. Afinal, o que significa aprender em profundidade? O que é, de fato, autoria em tempos de máquinas criativas? Como garantir que a escola não apenas acompanhe a transformação digital, mas também forme cidadãos capazes de navegar (e não se afogar) nesse novo cenário?

Assim como a IA não cria problemas novos para a educação, ela também não traz soluções para todos os males. A inteligência artificial é uma ferramenta, e deve ser tratada como tal. Professores e gestores precisam abrir mão do medo e da fantasia de que robôs irão protagonizar uma revolução na educação.

A revolução ainda está nas nossas mãos de carne e osso. O centro continua sendo a relação entre professor e aluno. É nesse encontro humano, marcado por diálogo, ética e afeto, que a aprendizagem se realiza de fato.

Como já nos lembrava Paulo Freire, “ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”. E talvez aí esteja a chave: a IA pode até ser uma poderosa mediação tecnológica, mas jamais substituirá a mediação humana que dá sentido à educação.

Por: Elisa Lemme, Gerente de Marketing do Colégio Paulo Freire