O fenômeno ganhou destaque após denúncia do criador de conteúdo Felca e acende alerta sobre o papel da escola e das famílias na proteção da infância.
A pergunta que não quer calar: A infância ainda é vivida plenamente ou está sendo encurtada?
Essa foi a provocação feita pelo influenciador Felipe Bressanim Pereira, o Felca, em um vídeo que já ultrapassou 26 milhões de visualizações. Nele, ele denuncia casos de adultização infantil — quando crianças e adolescentes são expostos a comportamentos e contextos adultos antes de estarem prontos para isso.
Quando a exposição vira espetáculo
No vídeo, Felca expõe perfis de influenciadores que colocam menores em situações sexualizadas:
Apresentações com danças sensuais para público adulto
Consumo de álcool
Procedimentos estéticos exibidos publicamente
O impacto foi imediato: investigação pelo Ministério Público, perfis removidos e 32 projetos de lei apresentados na Câmara dos Deputados para regulamentar a presença de menores no ambiente digital.
Adultização: o que é e por que nos preocupa
A adultização é o processo de empurrar a criança para a vida adulta antes do tempo, seja por responsabilidades, comportamentos ou contextos.
Ela rouba o espaço do brincar, da imaginação e da construção segura da identidade.
Impactos mais comuns:
Ansiedade precoce
Perda de criatividade
Vulnerabilidade emocional
Internet: um território sem porteira
A discussão sobre adultização não pode ignorar o papel da internet. Hoje, o acesso irrestrito a conteúdos de todo tipo é uma realidade para crianças e adolescentes. Basta um clique para que se deparem com conteúdos sexualizados ou violentos, padrões estéticos extremos e pressão por exposição da própria imagem.
Sem supervisão ou diálogo, o entretenimento pode se transformar em um processo silencioso de maturação forçada.
É nesse ponto que nossa orientadora educacional Renata Tavares lembra: “Crianças e adolescentes não são miniadultos. Eles precisam de tempo e de referências saudáveis para construir sua visão de mundo. Quando esse tempo é roubado, todo o desenvolvimento é afetado”.
O papel da família: a primeira (e maior) barreira de proteção
Embora a escola tenha um compromisso social com a proteção da infância, é no ambiente familiar que a maior parte do acesso às mídias sociais acontece. É em casa que se define se o uso será livre ou mediado, se haverá limites claros e se as conversas sobre segurança digital farão parte da rotina.
Pais e responsáveis desempenham papel essencial ao:
Acompanhar o conteúdo que filhos consomem e produzem;
Definir regras de tempo e de plataformas adequadas à idade;
Criar um ambiente de confiança para que crianças e adolescentes falem sobre o que veem e vivem online.
Quando escola e família atuam juntas, o risco de adultização diminui e o espaço para a infância se fortalece.
O que a escola pode (e deve) fazer
Em um mundo acelerado e conectado, a escola deve ser um porto seguro da infância. Isso passa por:
Conversas abertas com as famílias sobre uso consciente da internet;
Formação de professores para identificar sinais de adultização e vulnerabilidade digital;
Projetos pedagógicos que resgatem a imaginação e o tempo de ser criança.
Encerramento:
Proteger a infância é um compromisso coletivo. Reconhecer os riscos da adultização e agir preventivamente é garantir que crianças e adolescentes possam viver cada fase de forma plena, acumulando experiências que serão base para a vida adulta. E, no dia a dia, cada gesto de cuidado, seja na escola, seja em casa, ajuda a manter vivo esse território único que é a infância.